Recentemente fiquei sabendo por três amigos na rede que até a galera do sertanejo parece agora seduzida pela ideia de criar versões em português pra obra dos Beatles. Confesso que me senti ligeiramente pioneiro nessa redescoberta do icônico quarteto em plena década de 20. Quem me acompanha sabe que ano passado gravei um projeto de versões de minha autoria pra celebrar a obra dos quatro magos do pop. Isso porque em 2020 se completaram 50 anos da dissolução do grupo. As versões que escrevi foram gravadas com um time de amigos sensacionais. Aproveito a ocasião pra apresentar ao mundo a arte visual de Nino Grandi que traduz a identidade dessa empreitada musical e espiritual. Convido os que não ouviram ainda essa homenagem a fuçar aqui meus perfis nas redes sociais pra conferir o resultado. Após a pandemia a ideia é circular com esse tributo em forma de espetáculo por várias cidades do Brasil. Inclusive quem sabe no futuro (sonhar ainda é de graça) sairá um álbum com todo esse belo projeto. Por enquanto, vamos nos cuidar, esperar a vacina e continuar contando com a música e as artes em geral pra nos salvar em tempos sombrios. Deixo a seguir um texto (escrito em 2020 antes de entrar em estúdio e botar as mãos na massa) para quem quiser saber mais um pouco dessa história mágica e misteriosa que está apenas começando...

"Sobre Nós

Eles mudaram o mundo. Nenhuma dúvida quanto a isso. Não falo só sobre música, indústria e arte. A trajetória deles transformou gerações e contribuiu para a popularização de uma busca transcendental entre jovens de diferentes décadas. No entanto, a barreira da língua foi cabal para que algumas pessoas não entendessem o valor e a potência dos seus discos. A palavra mais cantada por suas bocas: amor.

Quem não os conhece bem se equivoca ao pensar que sua maior herança ao mundo pop foram os imortais refrãos ou seus cabelos longos e roupas exuberantes. Desde cedo reparei que vários artistas da MPB que minha família escutava citavam os caras em suas músicas ou entrevistas. Raul Seixas, Gil, Caetano, Mutantes, Novos Baianos, Roberto e Erasmo, Milton Nascimento, Belchior e a lista não tem fim. Aos oito anos ganhei do meu pai aquela coletânea vermelha e azul. Ele falou que ali tinha música boa e que não envelhecia. Bingo! Aos nove comecei a estudar violão para aprender as canções deles e sei que ali foi plantada a semente do que se tornaria meu ofício. Montei banda cover aos onze anos e aos treze entendi que eles seriam sempre uma inspiração, mas eu queria mesmo era cantar e compor as minhas coisas.

John me fez perceber o poder das mensagens nas canções e motivou a virar também um mensageiro musical. Quanto mais eu aprendia inglês, mais admirava a escolha das palavras naquelas letras. O ritmo das frases e as rimas se sustentavam sonoramente mesmo sem acordes e notas musicais. Canções como “Come Together”, “I Am The Walrus”, “Happiness Is A Warm Gun”, “Across The Universe” e “Being For The Benefit Of Mr. Kite” são um parque de diversões e sensações para quem quer se aprofundar no idioma. Fora do estúdio e do palco Lennon era uma figura absurdamente autêntica, irreverente, polêmica e controversa. Artistas costumavam só exteriorizar uma imagem fabricada para o mercado e a mídia, mas ele definitivamente mostrava também sua faceta caótica. Na adolescência explorei sua carreira solo com mais profundidade. A forma que ele expressava seus traumas e dores era tão genuína quanto seus surrealismos e alquimias poéticas dos anos sessenta. Como compositor o aponto como um dos melhores do seu século. Genialidade talvez seja a arte de conseguir oferecer algo muito além do que nos é transmitido. Nesse caso, mesmo sem conhecer muita teoria musical ou ser um literato, ele foi capaz de produzir verdadeiras obras primas.

Lá pelos vinte anos eu já tinha integrado três bandas e lançado álbuns com propostas musicais distintas, mas sempre existiu um quê deles na minha produção. Não se trata de réplica inconsciente ou plágio disfarçado. Creio que o artista atua como uma esponja que continuamente absorve estímulos e os ressignifica. Por isso a influência deles paira sobre a cultura pop até hoje e a MPB prova isso facilmente. Traduzir uma obra dessa magnitude é um desafio arriscado. Possibilita desaprovações já desde antes de conferir o que foi desenvolvido pelo atrevido da vez. É preciso conservar não só o lugar das rimas, a métrica do texto e a fluidez da melodia como também o espírito e a atmosfera da canção.

Ninguém melhor para exemplificar como dar alma a uma canção do que George Harrison. Mesmo dividindo os holofotes com dois dos maiores arquitetos da música moderna, suas canções alcançaram reconhecimento inquestionável e nos convidam a mergulhar em nós mesmos para obter preciosos conhecimentos cósmicos. As melodias e poesias possuem uma delicadeza raríssima. “All Things Must Pass” é meu álbum preferido das fases solo. “Something” é das melhores canções de amor do planeta (como Sinatra já dizia) e no momento que escrevo esse texto “Here Comes The Sun” é a faixa do grupo com mais execuções nas plataformas de streaming. Na fase adulta só integrei um tributo desse universo e foi uma banda para celebrar sua obra. Por uma das convergências do destino foi inclusive o Vinicius Sá o técnico de som de vários shows desse circuito. A essa altura eu já tinha oscilado de integrante favorito duas ou três vezes, mas a própria filosofia do George me levou a concluir que não havia sentido em eleger um deles. O segredo da vida e da música está na complementariedade dos elementos.

Acabarei falando mais dos que já partiram do que dos vivos, até porque eles ainda estão escrevendo sua história. O que dizer de Paul? Dono de imenso talento, ele é um inovador permanentemente curioso e cheio de sensibilidade. Poucos sabem, mas o Sir. já compôs de sinfonias clássicas até temas eletrônicos futuristas. Pérolas como “Yesterday”, “Hey Jude”, “Blackbird”, “Michelle” e “Eleanor Rigby” seriam icônicas mesmo se não tivessem as belas letras que McCartney escreveu. Para mim, o melhor melodista que caminha na terra. Por sua causa me tornei um multi-instrumentista e realizei projetos tocando todos os instrumentos, como em “Pão e Circo” (meu primeiro trabalho solo).

Ringo por sua vez é um grande artista que ainda é subestimado em alguns círculos de ignorância. Músico de privilegiada criatividade, conseguiu com maestria incorporar batidas e pioneirismos rítmicos nas canções dos outros três. A bateria é o coração de uma banda e nós temos sorte dele ter sido a pessoa certa no lugar certo. Seja em “Rain” (confessadamente sua música favorita do quarteto), “In My Life”, “Taxman”, “Strawberry Fields Forever”, “The End” etc... sem seus arranjos de bateria, a magia desmoronaria. Ele contribuiu pouco como compositor, mas nos filmes foi sempre um destaque. Cômico e caricato sem ser forçado ou apelativo. Entre os camaradas de banda demonstrou ser a personalidade mais conciliadora, sempre elogiado pelos demais. Único capaz da façanha de reunir num disco solo os três ex-parceiros (em diferentes faixas, é claro). O mais precioso ensinamento que tive com o Ringão foi o de não me levar tão a sério e nem me cobrar além da cota saudável para um preguiçoso declarado. Esse ano completou oitenta primaveras. É pra aplaudir de pé.

Amigos me perguntaram ao longo dos anos se eu tinha vontade de regravar canções deles. Sempre disse que não. Qual seria a motivação para entrar em estúdio e repetir o que já foi muito bem feito no passado? Agora ironicamente 50 anos após o fim do conjunto me vi subitamente fascinado pela ideia de versionar parte dessa obra e o resultado da experiência me deixou realizado e surpreso. Ao mostrar para os mais íntimos (principalmente os que ouviram a vida toda e não falam inglês), as reações foram impagáveis. Gratificante demais. É um prazer dividir tudo isso com o resto dos fãs deles que falam português e com os futuros ouvintes dessa obra mágica e mística que o tempo só fortalece. Paz, amor e boas vibrações para todos os que leem.

De Luca"



Biografia

De Luca

Nascido em Brasília e radicado no Rio de Janeiro, De Luca é um intérprete, compositor, multi-instrumentista e produtor musical. Baseado em suas influências da MPB, o músico combina arranjos e texturas do rock com latinidades e elementos inusitados da música mundial. Poesia e idiomas são outras paixões do artista, que também produz em espanhol, inglês e ocasionalmente em francês.

Começou sua carreira aos nove anos de idade em saraus no boêmio bairro de Santa Teresa. Desde 2006 integrou duas bandas das quais foi vocalista (XM e Marraio) e a partir de 2015 iniciou trajetória solo. Nomes inventivos como Gilberto Gil, Os Mutantes e Novos Baianos estão entre suas principais fontes de inspiração.

Na fase solo lançou os álbuns “Pão e Circo” (2015) e “Sinfonia Tropical” (2018). Teve a surpresa de contar com o lendário cantor e guitarrista Pepeu Gomes apadrinhando seu primeiro trabalho e inclusive participando do show de lançamento. A principal curiosidade do disco de estreia é que De Luca encarou o desafio de gravar todos os instrumentos e vocais em casa, criando uma identidade orgânica e encontrando a essência da sua música.

Em “Sinfonia Tropical” De Luca reuniu um time especial de músicos e profissionais de mixagem e masterização para alcançar um patamar sonoro internacional sem perder a espontaneidade e o caráter do trabalho anterior. Canções como “Eu Não Matei John Lennon”, “Roleta Russa”, “Seus Lábios São Ópio”, “Espelho do Universo” e a faixa título são alguns dos pontos altos do álbum.

Ainda em 2018, montou um tributo a Raul Seixas e recrutou Armandinho Macedo (virtuoso criador da guitarra baiana) para abrilhantar o espetáculo de estreia do projeto.

No ano de 2019 fez um circuito de shows nas ruas do Rio e participou de festivais de música autoral. Em uma dessas ocasiões ao ar livre comandou seu tributo a Raul Seixas com a honrosa participação do guitarrista Rick Ferreira (que gravou a maioria dos discos do icônico baiano). Além disso contribuiu em produções de estúdio e compôs material para voz de diversos intérpretes da cena carioca.

De Luca atualmente está gravando um terceiro trabalho inédito em sua língua nativa, além de um álbum com suas melhores canções em outros idiomas. Após o fim da pandemia que se instaurou em 2020, o plano é cair na estrada para divulgar sua obra dentro e fora do país. Nas suas palavras “Música boa não envelhece, nem tem hora ou lugar pra nascer. O compositor é só o veículo capaz de captar a magia com suas antenas e revelar ao mundo essa força primitiva e magnifica que ela emana”.



Vídeos



Discografia



Baú Caótico é a estreia do cantor, compositor e multiinstrumentista Matheus De Luca nas páginas. Após o início da pandemia com a impossibilidade de estar atuante nos palcos e estúdios, o artista mergulhou na potência da poesia e esse processo resultou num inusitado livro. No âmbito da música, o autor ainda na adolescência integrou bandas proeminentes da cena carioca e desde 2015 vem construindo sua carreira solo. Lançou os álbuns “Pão e Circo” (2015) e “Sinfonia Tropical” (2018) e esteve envolvido em diversos projetos e colaborações.

Formado em Letras pela PUC-RIO, De Luca já excursionou por vários estados do Brasil (RJ, SP, RS, BA, MG e DF) com sua música. Em dezembro de 2022 o artista viajou à capital mineira, mas dessa vez para divulgar sua obra como escritor. Lançou o Baú Caótico na Livraria da Rua na Savassi e aproveitou para dar uma canja tocando algumas de suas canções com amigos músicos da cena local que se apresentavam por lá. Na sequência foi a vez do Rio de Janeiro de acolher o lançamento da recém nascida obra. Vários registros de ambos eventos foram publicados nas redes (@delucando). Animado, ele promete anunciar mais datas em outras cidades do país em breve.



Contato


  • Nascenthe Produções: (21)998549920

  • contatodeluca@uol.com.br


    Copyright © 2021 De Luca. Todos os Direitos Reservados.